Percebo e sinto mais hoje do que quando comecei a tocar e me
relacionar com a música e com os músicos, a aproximadamente vinte e cinco anos.
Percebo muito mais acesso à informação com as redes sociais e a multiplicidade
de publicações do mercado dos livros didáticos, e sinto o nivelamento das
idéias sem originalidade. Percebo mais acesso à instrumentos bons e, quase que
numa proporção inversa, sinto e vejo as dificuldades em termos instrumentos sem
que tenhamos que penhorar nossas almas para tanto.
Percebo o aumento do número de escolas e professores e sinto
o abismo didático vendo alguns frutos. Percebo o aumento de programas musicais
e reality shows na tv e sinto a vontade de muitos de cantar como norte
americanos das igrejas. Percebo cantores e músicos querendo desesperadamente
seu quinhão de fama e sinto que falta amadurecimento e um mínimo de
conhecimento e amor à música e à cultura brasileira. Percebo muita altivez e
pouco respeito e sinto cólera.
Percebo jovens crescendo como artistas e sinto que deveriam
respeitar os que já trilharam o mesmo caminho e de certa maneira abriram portas
direta e indiretamente. Percebo “bairrismo” cultural e sinto que isso é da
imaturidade. Percebo insegurança e sinto que falta um empurrãozinho(quando isso
me cabe eu dou!). Percebo má fé de artistas e sinto muita irritação. Percebo
muitas cobranças de um lado e sinto contrapartidas aquém das cobranças. Percebo
muitas exigências do outro lado e contrapartidas também aquém das exigências.
Percebo escesso de críticas em relação aos trabalhos dos outros e sinto que
falta fazer o próprio antes de qualquer coisa. Percebo anseios por endorsements
e sinto que o preço ainda não foi pago. Percebo a vontade de ter antes de ser
ou merecer e sinto que é abjeta.
Mas percebo e sinto que
independentemente do relativismo cultural ao qual estamos diariamente expostos
e cercados, a música boa permanece e os bem pensantes se encontram e celebram. Percebo
os círculos e caminhos para a boa música se fechando e dependendo cada vez mais
de leis, e sinto entretanto a perseverança. Percebo amizade e alegria em tocar
e sinto vontade de estar junto. Percebo seriedade na profissão e sinto orgulho
alheio.
No meu mundo percebo caminhos e saídas apesar dos trancos , e
sinto que ainda preciso aprender e empreender mais. Percebo e sinto.